UMA NOVA CHANCE PARA O MULTILATERALISMO
Este ano ainda não terminou, o próximo ainda é próximo, mas as expectativas – quase que transformadas totalmente em torcida – é de que o multilateralismo volte ao centro da política internacional. O motivo é um só: Joe Biden. Ou, como também está sendo chamado, a saída de Donald de Trump. Seja como for, os Estados Unidos devem assumir um papel mais relevante no tratamento das questões globais que envolvem diversas dimensões, como, por exemplo, o meio ambiente, a saúde, a alimentar, a econômica e a defesa.
O desalinhamento nas relações transatlânticas durante o governo Trump pode ser destacado, por exemplo, quando analisadas as posições distintas no Tratado de Paris ou a relevância dada à OTAN. Enquanto a União Europeia, de um modo geral, busca soluções para problemas globais através de fóruns multilaterais, como o Acordo de Paris, os EUA deixaram de lado a Organização Mundial da Saúde (OMS) no meio de uma pandemia global, desacreditaram a Organização Mundial do Comércio (OMC) e se retiraram das negociações do Acordo de Paris e se retiraram de tantos outros compromissos compartilhados. O mesmo pôde ser visto com o enfraquecimento e esvaziamento da OTAN durante o governo de Donald Trump. Volto nisso em seguida. O mundo visto por Trump se aproxima da ordem Hobbesiana, onde o globo deve ser visto como um jogo de soma zero. O mundo visto por Biden deixa espaço para cooperação e as primeiras indicações do seu governo deixam clara essa visão e opção.
O Reino Unido deverá ser outro em 2021 em função do BREXIT. A Alemanha deverá ser outra depois Angela Merkel. Macron ainda presidirá a França por um tempo. Mesmo que o foco de Joe Biden seja em recolocar os EUA no caminho do crescimento econômico depois do choque do coronavírus e tentar resolver questões sociais muito sérias e problemáticas internamente, o palco internacional também demandará ação por parte do presidente eleito. E as expectativas são de que seu governo recupere o prestígio internacional dos EUA e colabore para a retomada de relevância do multilateralismo no sistema internacional. Além das questões ambientais, muito discutidas durante a campanha de 2020, a OTAN desponta como um dos objetos de atenção dada a importância estratégica de conter a influência da Rússia na região, conter o avanço Chinês, especialmente através da implantação da tecnologia 5G e estreitar novamente as relações com a França, Alemanha e Reino Unido.
A diplomacia brasileira segue avessa ao multilateralismo e possivelmente isso implicará em uma lenta aproximação com o novo governo dos EUA. Sob o risco de novas pressões internacionais em função da preservação da Amazônia, o Brasil deverá ficar atento para não atrapalhar seu comércio internacional pela incapacidade de leitura dos movimentos que estão para acontecer. Brigar com a China não está sendo nada produtivo. Criar confusão com líderes europeus não tem ajudado muito o governo brasileiro. O descaso com o Mercosul é evidente. O desinteresse nas relações com a África é latente. Sem os Estados Unidos, resta quem para não ficarmos em isolamento? Índia e Rússia? Me parece pouco, especialmente considerando um país historicamente gigante em sua diplomacia.
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