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Vera Galante

O QUE ESPERAR DA VISITA DE LULA AOS EUA

Vivemos uma proximidade inédita com os EUA, surpreendente até. Brasil e Estados Unidos sempre foram próximos, mas nunca aliados automáticos, como são alguns países europeus, por exemplo. Nossas economias são concorrentes, e nem sempre votamos da mesma maneira em organismos internacionais. A visita que se iniciará dia 2 de fevereiro será, certamente, diferente de todas as anteriores por várias razões que tentarei explicar a seguir.

Tanto Biden quanto Lula representam uma volta a um passado conhecido. Os ex-presidentes de ambos os países concorreram à reeleição certos da vitória que não veio. Biden, em 2020, representava a volta a um passado seguro – um homem público com longa carreira no senado e vice-presidente por 8 anos durante os dois mandatos do ex-presidente Barak Obama. Aqui o eleito foi Luiz Inácio Lula da Silva, um homem público com longa militância sindicalista, deputado constituinte e presidente da república por 8 anos. Tanto Biden como Lula não representam surpresa para os eleitorados de ambos os países, depois de uma “aventura” semelhante com políticos inexperientes e sem programas definidos em seus respectivos países.

Além disso, Biden e Lula têm a missão de reforçar os valores democráticos tão aviltados nos anos anteriores a eles, culminando, nos dois casos, com depredação de bens públicos para a manutenção (lá) e a volta (aqui) de Trump e Bolsonaro por meios ao menos, digamos, não democráticos. Eles têm muito o que conversar nesse sentido porque nenhum dos dois pode falhar – devem dar o exemplo para o mundo que a democracia é a melhor forma de governo, e que ela tem que ser fortalecida e vigiada em todo o tempo. Isso explica porque governo dos EUA rapidamente reconheceu a vitória de Lula publicamente, através de nota do Departamento de Estado e telefonema de Biden a Lula na mesma noite. O recado de que os EUA não aceitariam qualquer resultado que não fosse o expressado nas urnas eletrônicas sempre foi claro – desde antes do primeiro turno. Várias delegações visitaram o Brasil já antes do primeiro turno com o mesmo recado.

O presidente Lula e o presidente Biden demonstram também compromisso com o meio ambiente, direitos humanos e inclusão como determinantes da economia e de outros processos. Isso é novidade tanto lá como cá, já que os presidentes anteriores pouco se importavam com essas causas. Portanto, o tema economia e comércio volta à pauta permeados por essas bandeiras. Lula tem a seu favor, por exemplo, a evidência da depredação da Amazônia brasileira (desmatamento, garimpo ilegal com a consequente poluição dos rios...) além da crise humanitária da tribo Yanomami. Biden já manifestou desejo de ajudar o Brasil neste ponto e pode muito bem anunciar alguma ajuda substancial no curto prazo. A devastação da Amazônia custa muito caro para o Brasil e para o mundo, portanto o desejo de ajudar é grande. O agronegócio não deixará de estar nas conversações bilaterais, mas um agro mais sustentável – o que agrega valor aos nossos produtos.

O Brasil também pode se beneficiar grandemente de um avanço no parque tecnológico. Os EUA não gostariam de ver o aumento da indústria chinesa por aqui, portanto pode propor algum incentivo para que o Brasil use a tecnologia vinda do norte. Aliás, a China e a expansão de seu comércio e influência preocupa muito os dois países.

Não se espera que Biden seja a inspiração para o Lula como Trump foi para Bolsonaro, mas certamente têm muito o que conversar. Por exemplo, espera-se que os dois divirjam sobre a guerra da Ucrânia e as penalidades impostas à Rússia, mas divergências fazem parte do diálogo e do relacionamento entre democracias. O constante diálogo, com concordância e divergência, é saudável e muito bem-vindo. Esperamos que o relacionamento entre os dois países seja um relacionamento que vá muito além do relacionamento pessoal de dois presidentes.


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