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Vera Galante

O MUNDO E O MEIO AMBIENTE DO BRASIL


No dia 22 de abril, na famigerada reunião ministerial o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles sugeriu que já que a imprensa estava tão ocupada com a COVID-19, que se deixasse a boiada passar que ninguém notaria. Mas notaram!


Apenas dois meses após a declaração dele (e a de outros ministros) ter vindo a público por decisão do Supremo Tribunal Federal, não só a imprensa mas a comunidade internacional trouxe o meio ambiente para o centro das discussões.


O interessante de se notar é que a indignação internacional não vem somente dos vigilantes de sempre – o Greenpeace, WWF e outras tantas ONGs conservacionistas. Vem, pasmem, de indústrias e de países que denunciam a falta de ação do governo brasileiro em conter o avanço do desmatamento no Brasil.


Em agosto de 2019 Ricardo Galvão, então Presidente do INPE, foi demitido pelo Presidente Bolsonaro por ter divulgado dados alarmantes sobre o desmatamento no Brasil. O Presidente não concordou com os números e demitiu Ricardo Galvão, que foi escolhido naquele mesmo ano Cientista do Ano pela comunidade científica internacional. A alegação do Presidente, na época, foi que os dados não condiziam com a realidade e que prejudicavam a imagem do Brasil no exterior.


Quase um ano depois, a Coordenadora Geral de Observação da Terra do Inpe, Lubia Vinhas, também foi exonerada, mas pelo Ministro Marcos Pontes. O motivo não foi divulgado, mas foi pouco tempo após o INPE ter divulgado dados comprovando aumento do desmatamento da Amazônia com relação ao ano anterior.


Entre a demissão de Ricardo Galvão e de Lubia Vinhas, 10 meses, a atenção mundial ao tratamento que o Brasil dá ao meio ambiente só aumentou, a ponto de alarmar 29 fundos de investimentos, que enviaram carta aberta a embaixadas brasileiras em 8 países da Europa.


A situação vergonhosa do Brasil em uma arena na qual sempre foi protagonista marca uma das lacunas abertas pela política externa errática do atual governo. Internamente a destruição de órgãos importantes como o ICMBio, INPE, IBAMA e outros órgãos que atuam para preservar os recursos naturais que temos evidenciam como a “boiada” está passando com a bênção do Ministério do Meio Ambiente, que deveria dar condições para a atuação dos cientistas e fiscais do meio ambiente. Em recente reunião com presidentes de países do MERCOSUL, o Presidente Bolsonaro declarou que o Brasil estaria desfazendo opiniões distorcidas quanto às medidas tomadas em favor da floresta amazônica e das populações indígenas. Isso porque a União Europeia ameaça não ratificar o acordo entre o MERCOSUL e a UE por conta da evidente degradação da Amazônia.


O Vice-Presidente Hamilton Mourão, que preside o Conselho da Amazônia, chegou ao ponto de admitir recentemente que realmente houve aumento do desmatamento, mas que há exagero aí. Volta à velha e requentada paranoia de interesses estrangeiros no território brasileiro.


Hoje quem tem defendido o meio ambiente no Brasil é principalmente o agronegócio e parte significativa da bancada ruralista, que vê a necessidade de provar ao comprador estrangeiro que pratica uma agricultura sustentável, preocupação crescente da população internacional. Hoje os que defendem medidas de proteção ao meio ambiente são os improváveis ministros da agricultura e da economia.


Até pouco tempo atrás meio ambiente, economia e agricultura estavam em campos opostos, mas como cresceu a preocupação com a qualidade dos produtos consumidos quanto às práticas ambientais e mesmo de direitos humanos, a pressão econômica é a que forçará o Brasil a voltar às práticas das quais é signatário em tantos tratados internacionais e também cumprir as leis editadas no próprio país que preserva o meio ambiente e protege direitos humanos.


Empresas e cidades aprenderam a duras penas – no Brasil temos muitos exemplos. A cidade de Cubatão, no litoral paulista, por exemplo, de cidade condenada pela poluição se tornou cidade modelo de recuperação de seus recursos naturais. A Natura, uma gigante nacional que antigamente explorava mão de obra e recursos na Amazônia de maneira predatória, hoje serve de exemplo de empresa sustentável. Tantos outros são os exemplos no Brasil e no mundo.


Hoje entidades conservacionistas brasileiras (como, por exemplo o “Observatório do Clima e o Ministério Público Federal) pedem abertamente o afastamento de Ricardo Salles do Ministério do Meio Ambiente. Países da União Europeia também, veladamente, pressionam por sua saída. Todos, inclusive ex-ministros da fazenda e presidentes do Banco Central do Brasil cobram mudança da abordagem da preservação da natureza brasileira como condição para o desenvolvimento econômico efetivo do país.


Antes de terminar: muitos vão questionar o interesse internacional na Amazônia, desenterrando lendas de que estão prestes a invadir a região, etc., etc., e que estes países não preservaram o próprio meio ambiente, portanto não teriam autoridade para exigirem isso do Brasil. Nada mais falso. Realmente todos os países são culpados em maior ou menor escala de depredar seus recursos naturais, mas quase todos tomam medidas importantes e efetivas para recuperar seu meio ambiente, e doam recursos para o Brasil (Alemanha e Noruega, para falar em exemplos mais recentes) fazer o mesmo com o nosso. Lógico que interesse comercial existe, mas a Amazônia é nossa.



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