PEQUENO MANUAL PRÁTICO PARA IDENTIFICAR O EXTREMISMO POLÍTICO
A polarização ideológica nunca esteve tão na moda na política brasileira. Por outro lado, os testes de personalidade sempre foram muito populares por aqui. Resolvi então juntar as duas coisas! O que se segue é um manual prático para identificar o extremismo político. Que rufem os tambores!!!
Naturalmente, este artigo é apenas uma divertida provocação, sem nenhuma pretensão científica. Mas a vantagem é que este meu teste de radicalismo tem aplicação universal, e pode ser aplicado a qualquer um, inclusive a nós mesmos.
Bolei uma lista incompleta (e sem uma hierarquia definida) dos elementos da personalidade política extremista. Ou, se preferirem, da personalidade política radical. Ou, ainda, da personalidade política autoritária. Dá tudo na mesma!
O primeiro item da personalidade política extremista é a veneração incondicional a uma determinada liderança política, normalmente a uma figura carismática de forte apelo popular. É quase um culto religioso. O líder assume características mitológicas e messiânicas, que não são encontradas nos meros mortais.
O desprezo pelos veículos de comunicação tradicionais é um segundo traço característico do discurso político radical. O jornalismo profissional é normalmente visto como uma ameaça. Os bons jornalistas são aqueles que fazem militância em favor da liderança política extremista e de suas realizações (reais ou imaginárias).
A simpatia ou tolerância para com regimes autoritários (do presente ou do passado, de dentro ou de fora do Brasil) é um terceiro componente do extremismo político. Os radicais de esquerda e de direita não têm a democracia como um valor universal, e admitem que regimes autoritários (ou semi-autoritários) são aceitáveis em circunstâncias determinadas.
A hipervalorização das prerrogativas do poder executivo também integra a lista de quesitos da personalidade política extremista. Quando estão participando do governo, os radicais tendem a desvalorizar o poder legislativo, o poder judiciário e os governos subnacionais. Os extremistas detestam a separação de poderes, o federalismo e a limitação do poder dos governos.
Uma quinta característica marcante das narrativas extremistas é a sua obsessão em reduzir o natural pluralismo da política a categorias identitárias bipolares, do tipo “nós” contra “eles”. O centro político é apresentado como se fosse idêntico ao extremo ideológico oposto. A esquerda e a direita radicais admitem como “centro” apenas as versões moderadas de si próprias. Os extremistas sempre julgam ter o monopólio das virtudes.
O uso irresponsável e temerário de um vocabulário político polarizado é o sexto item desta lista. Os extremistas, especialmente quando se referem ao polo ideológico oposto, adoram utilizar expressões como “golpe”, “fascismo”, “comunismo”, “chacina” e “genocídio”. Estes e outros termos similares têm definições conceituais rigorosas, mas são empregados de forma conceitualmente leviana pelos radicais, com o objetivo de intoxicar o ambiente político.
Finalmente, o sétimo e último item que descreve o extremismo é a enorme dificuldade deste tipo de personalidade política em fazer autocrítica. Os radicais são incapazes de reconhecer publicamente seus erros passados, e de pedir desculpas por eles. No máximo, conseguem atribuí-los a circunstâncias externas. Mas jamais às suas próprias imperfeições inatas.
O extremista (de direita ou de esquerda) não precisa necessariamente pontuar em todos os sete quesitos desta lista infame de radicalismos. Mas caso venha a pontuar em quatro ou mais deles, recomendo que já procure com urgência um tratamento de desintoxicação.
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