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  • Rogério Schmitt

A POPULARIDADE DO GOVERNO EM TEMPOS DE PANDEMIA


Sou um consumidor voraz das pesquisas de opinião pública que medem a popularidade dos governos. Essas sondagens feitas periodicamente por diferentes institutos são extremamente úteis para os cientistas políticos. Elas nos oferecem medidas empíricas muito mais confiáveis do que as nossas próprias conversas com familiares e amigos, do que as postagens que lemos nas redes sociais ou do que as reportagens na imprensa tradicional.


A pandemia do coronavírus criou um grave problema para este mercado. As pesquisas de opinião pública são habitualmente feitas a partir de entrevistas presenciais, com a aplicação de questionários em pontos de fluxo nas ruas ou então no domicílio dos entrevistados. Por motivos óbvios, todas as pesquisas presenciais foram suspensas há alguns meses. A mais recente delas foi feita no distante mês de janeiro, quando o coronavírus ainda estava longe de ser uma preocupação.


Por outro lado, nos últimos anos também tem crescido o mercado de pesquisas políticas feitas através de telefones celulares, conduzidas por institutos de menor porte que concorrem com as empresas tradicionais. São pesquisas mais rápidas e baratas que as tradicionais. Mas, a rigor, elas não podem sequer ser comparadas com as primeiras, devido a várias questões metodológicas que não cabem num artigo como esse. Essas são as únicas pesquisas de que dispomos atualmente.


O que podemos, então, afirmar sobre a popularidade do governo Bolsonaro nesses tempos de pandemia? Ela teria permanecido nos mesmos patamares anteriores? Teria melhorado? Ou teria piorado? Deixemos de lado as nossas impressões subjetivas e tentemos descrever esse quadro com base nas melhores evidências empíricas disponíveis. Examinemos, separadamente, os números das quatro principais pesquisas existentes.


A última pesquisa feita pelo Ibope (em parceria com a CNI) foi a campo entre 5 e 8 de dezembro do ano passado. Naquela altura, o governo Bolsonaro era avaliado como ótimo ou bom por 29% dos brasileiros, contra 38% que o avaliavam como ruim ou péssimo. A rodada seguinte da tradicional pesquisa CNI/Ibope deveria ter ido a campo em março, mas acabou cancelada devido ao surto do coronavírus. Em 2020, o Ibope não divulgou nenhuma outra pesquisa (presencial ou por celular) de avaliação do governo Bolsonaro.


Outra sondagem tradicional frequentemente citada por analistas do quadro político é a pesquisa CNT/MDA. Essa foi justamente a última pesquisa conhecida a ser realizada presencialmente antes do coronavírus. A coleta de dados ocorreu entre 15 e 18 de janeiro. Naquele momento, as taxas de avaliação positiva e negativa do presidente Bolsonaro foram de 34,5% e 31%, respectivamente. De lá para cá, também não houve novas rodadas dessa pesquisa.


O terceiro instituto que realiza habitualmente pesquisas presenciais é o Datafolha. Eles estiveram em campo praticamente nas mesmas datas do Ibope, entre 5 e 6 de dezembro. E os números do Datafolha foram bem parecidos com o do seu principal concorrente: 30% de ótimo/bom e 36% de ruim/péssimo. Porém, ao contrário dos dois casos anteriores, o Datafolha continua realizando pesquisas de opinião pública durante o surto do coronavírus. Mas são enquetes telefônicas, com metodologia própria.


Três rodadas de pesquisas do Datafolha foram divulgadas nesse período da pandemia. No entanto, nenhuma delas fez a tradicional pergunta genérica sobre a avaliação do governo Bolsonaro. Portanto, também por esse motivo, os números a seguir não podem ser comparados com os números de dezembro, pois as perguntas não foram as mesmas. Na prática, o instituto perguntou como os eleitores avaliavam o desempenho do governo especificamente em relação ao coronavírus.

A avaliação positiva do governo Bolsonaro no combate ao coronavírus era de 35% na rodada realizada entre 18 e 20 de março, de 33% entre 1º e 3 de abril, e de 36% na rodada realizada em 17 de abril. Nessas mesmas datas, as taxas de avaliação negativa foram de 33%, de 39% e de 38%, respectivamente. Nas três pesquisas, portanto, estamos diante de um empate técnico.


Ironicamente, nenhuma das pesquisas vistas até o momento nos permite avaliar com segurança se houve alguma mudança nos índices de popularidade do governo Bolsonaro devido ao surto do coronavírus. Nos dois primeiros exemplos, não há pesquisas recentes que possam ser comparadas com as mais antigas. E, no terceiro exemplo, essas pesquisas recentes até existem – mas não mediram o mesmo indicador que antes.


De fato, há apenas uma pesquisa que nos permite verdadeiramente comparar a popularidade do atual governo antes e depois da pandemia. É a pesquisa telefônica XP/Ipespe, que foi a campo em oito ocasiões entre janeiro e abril (ver tabela).



Os números acima mostram que, desde o surto do coronavírus, aumentou significativamente a avaliação negativa do governo Bolsonaro. Atualmente, ela está muito próxima de 50% do eleitorado. Por seu turno, a avaliação positiva do presidente já caiu para menos de 30% (ainda que esta queda seja mais lenta). Na prática, portanto, parece estar havendo um movimento dos eleitores que avaliavam o governo como “regular” para a coluna dos que o avaliam como “ruim/péssimo”.


Naturalmente, dificilmente será possível apontar uma tendência clara para a popularidade do governo Bolsonaro nesse primeiro semestre com base exclusiva em pesquisas telefônicas. Provavelmente, será preciso aguardar a realização de novas rodadas de pesquisas presenciais. Preliminarmente, no entanto, podemos constatar, por um lado, uma efêmera estabilidade no contingente de eleitores favoráveis ao governo e, por outro lado, um incremento expressivo da parcela de eleitores mais críticos ao atual presidente.

Artigo originalmente publicado em: http://www.espacodemocratico.org.br/


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