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  • Rogério Schmitt

MANIFESTAÇÕES DE RUA NÃO SÃO BONS TERMÔMETROS DA POPULARIDADE DOS GOVERNOS


O mês de maio foi marcado pelo retorno das grandes manifestações de caráter político às ruas das principais cidades brasileiras. Esse ciclo de protestos populares surgiu em junho de 2013 e, mais recentemente, desempenhou importante papel no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.


Agora em 2019, tivemos primeiro os protestos oposicionistas do dia 15, contrários aos cortes orçamentários na educação anunciados pelo governo federal. E tivemos também, no dia 26, as manifestações de apoio ao presidente Jair Bolsonaro e à sua agenda de reformas.


As consequências políticas dessas manifestações de rua tendem geralmente a ser de curtíssima duração. Elas geram manchetes de jornal por um ou dois dias, mas mesmo esse efeito rapidamente se dissipa. O relacionamento entre os poderes e a conjuntura econômica sabidamente desempenham um papel muito mais relevante sobre o ambiente político.


Assim, não há qualquer sentido prático na "guerra de narrativas" que se observa em certo tipo de análise sobre as manifestações de maio. Quem já é favorável a Bolsonaro acha que as manifestações do dia 26 atraíram mais público, e que o governo saiu fortalecido. Por seu turno, os críticos de Bolsonaro acham que os protestos do dia 15 foram maiores, e que o governo saiu enfraquecido.


Portanto, trata-se de um debate estéril. Ele é baseado exclusivamente em percepções subjetivas (fotos, vídeos e testemunhos pessoais, principalmente). Simplesmente não há estatísticas nacionais sobre o número de pessoas nas ruas. E mesmo o impacto das manifestações sobre as mídias sociais - que é quantificável - está sujeito a vieses bem conhecidos.


O fato é que existe um termômetro muito melhor para avaliar a popularidade de qualquer governo. Estou me referindo às pesquisas de opinião pública, que entrevistam amostras estatisticamente representativas da população. Ao contrário das manifestações de rua, as pesquisas nos oferecem indicadores objetivos e comparáveis ao longo do tempo. Mesmo a crítica aos dados das pesquisas também está sujeita a rigorosos critérios técnicos.


Vejamos o gráfico acima, por exemplo. Ele sistematiza, cronologicamente, as pesquisas feitas pelos quatro institutos mais tradicionais, desde o início do ano, sobre a popularidade do governo Bolsonaro. Os indicadores observados são as taxas de avaliação positiva e de avaliação negativa do governo.


Esses dados nos permitem afirmar com segurança que, atualmente: a) cerca de um terço dos brasileiros avalia positivamente o governo; e b) outro terço dos brasileiros avalia o governo de forma negativa. Além disso, também podemos constatar que: c) ao longo do tempo, a rejeição ao governo tem aumentado, ao passo que a aprovação tem permanecido mais estável. Esta é a situação no mês de maio. No futuro, tudo pode mudar.


O debate sobre a conjuntura política é sempre muito mais produtivo (e equilibrado) quando está baseado em dados objetivos do que em percepções subjetivas. Para analisarmos a popularidade de um governo, as pesquisas de opinião são uma ferramenta muito mais eficaz do que as manifestações de rua.


O fato de as duas ondas de manifestações terem ocorrido em clima pacífico revela, por outro lado, um interessante potencial para o amadurecimento da democracia brasileira. Ao que parece, os protestos populares regulares chegaram para ficar.




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