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A VOLTA DO VELHO OESTE AMERICANO

Vera Galante

A lei de quem mete mais medo parece atrair o Presidente Donald Trump. O bang-bang do Século XXI é pelo Twitter pessoal ou pela Fox News, e ele atira nos desafetos resguardado pelas fortificadas paredes da Casa Branca ou por seus apoiadores da Fox. Internamente seu alvo predileto continua ser Hilary Clinton, que se presta a esse papel respondendo aos seus insultos e outros que vêm e vão. No exterior, o alvo é Kim Jong Un.


Trump tem um apelido para cada um – Crooked Hillary, “Rocket Man” (King Jong Un), a mídia é fake (menos a Fox News e o site Breitbert). É chegado a memes, e já tuitou que acertava a cabeça da CNN com uma bola de golfe e as costas de Hillary Clinton entrando em um avião. Ninguém, nem mesmo o poderoso Ministro da Casa Civil (Chief of Staff) Gen. Kelly ou sua filha Ivanka, conseguem controlar seus rompantes. Trump também se interessa muito por assuntos nada presidenciais, como a entrega do Emmy, cujos discursos, em sua maioria, foram contra sua política de imigração e seu tuíte, previsivelmente, lamentava muito que a audiência do programa tivesse sido a mais baixa da história (ou seja, de acordo com ele, poucos ouviram as críticas que fizeram). O interessante é que Melania Trump, a apagada primeira dama só se aventura em escassos voos solos quando é para falar contra o bullying.


Mas Trump não usa só o Twitter. Uma rajada especialmente danosa de insultos de Trump foi em seu discurso na Assembleia Geral da ONU. Começou por agradecer a atenção de todos em oferecer ajuda às vítimas dos vários furacões que assolaram o país, mas que os EUA vão bem e vão sair dessas ainda mais fortes e resilientes. Passou então a falar sobre a recuperação do poderio militar de seu país e a listar o que ameaçava os países presentes – terroristas, extremistas e regimes párias (rogue states) que apoiam terroristas e ameaçam outras nações, assim como regimes autoritários (o Iran também foi alvo de seus insultos). Ao se referir à Coréia do Norte, não nominou seu ditador, mas o chamou de Rocket Man (os que conhecem a música de Elton John, sabem que ela é sobre um astronauta que vai ficando louco enquanto está no espaço) e ameaçou destruir o país totalmente (mas só se as Nações Unidas falharem em suas tentativas de manter a paz – outra ameaça).


Homem dado a bravatas, já começou seu governo cumprindo uma promessa de campanha de construir um muro entre os EUA e o México, cuja conta seria paga pelo país vizinho. Não colou, e provocou o cancelamento da visita do Presidente do México aos EUA. Trump reagiu aos testes de mísseis por Kim Jong-Un com palavras duras, quase declarações de guerra. Kim aceitou a provocação e testou uma bomba de hidrogênio. Trump achou seu rival. Em reunião com alguns líderes sul-americanos, inclusive o do Brasil em jantar antes da Assembleia Geral da ONU conversou sobre a Venezuela com alguns países, mas nada se concluiu. No dia seguinte ofendeu e insultou a Coréia do Norte, o Iran, a própria ONU, países amigos e inimigos. A sua troca de insultos com a Coreia do Norte está chegando a um patamar perigosíssimo, com a Coreia interpretando as provocações de Trump como uma declaração de guerra.


Diplomacia não é o forte do Presidente dos EUA – ele usa linguagem de homem comum e mostra para a sua base que é o único durão que tem coragem de enfrentar o mundo inteiro de uma vez. É obvio que não ouviu o Departamento de Estado para fazer seu discurso. Ele não é homem de ouvir ninguém e despreza os diplomatas – só ouve os generais que, a seu ver, são tão durões quanto ele. Recentemente se queixou a interlocutores que um subsecretário de estado é muito “fraco” pois quer esgotar todas as possibilidades diplomáticas com a Venezuela e com a Coréia do Norte antes de considerar qualquer atitude mais drástica.


Não é só no âmbito internacional que seu estilo é polêmico. Depois do grave incidente em Charlottesville em que supremacistas brancos e defensores da inclusão em todos os níveis se chocaram e houve uma vítima fatal, ele nunca condenou os supremacistas brancos e neonazistas, mas afirmou que havia culpa nos dois lados. Também demorou a mencionar a vítima. Logo depois condenou, para em seguida reafirmar que ambos os lados eram culpados e que havia pessoas de bem junto com os supremacistas. O Congresso elaborou uma nota para sua assinatura condenando o evento e ele assinou. Mas, como se esperava, voltou a dizer que ambos os lados estavam errados.


Foi a Houston para ver a devastação do furacão Harvey e disse que as pessoas que perderam suas casas estavam felizes com sua visita e que ele estava feliz com a plateia que conseguiu reunir. Nenhuma palavra de solidariedade.


Ele se engaja em eleições para Senador no Alabama (para preencher a vaga deixada por seu Advogado Geral, Jeff Sessions) dizendo que apoia “Big” Luther Strange porque ele é leal e conclamou a todos que portam armas a votarem nele, porque ele apoia a poderosa Associação Nacional dos Rifles. Luther perdeu a indicação do Partido Republicano nas primárias para o Juiz Roy Moore, apoiado por ninguém menos que Steve Bannon, até pouco tempo atrás o principal estrategista político de Trump.


Além disso tudo, há a polêmica do protesto de esportistas durante a execução do Hino Nacional Americano, o socorro (ou falta dele) a Porto Rico que foi devastado pelo furacão Maria. A cada hora uma novidade. O que nos interessa notar é que, em busca de popularidade, Trump é capaz de brigar com seu próprio partido, fazer acordo com o partido de oposição na calada da noite, e ofender seus auxiliares diretos pelo Twitter ou em coletivas de imprensa.


O Brasil, por enquanto, está a salvo, mas o Brasil e os EUA têm economias concorrentes e ambos os países são protecionistas. Vai ser interessante assistir quando a metralhadora verbal do Trump se virar para o Brasil e começar a atirar. A possibilidade de isso acontecer é remota, mas ela existe. Os principais contenciosos entre os países são o aço, açúcar, café, grãos... enquanto conseguirmos ficar abaixo do radar, estamos bem.

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