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Rogério Schmitt

TERCEIRA VIA E CENTRO NÃO SÃO A MESMA COISA

As pesquisas de intenção de voto que vêm sendo realizadas ao longo desse ano sugerem fortemente que a eleição presidencial de outubro de 2022 será polarizada entre o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula.

Essas mesmas pesquisas revelam, no entanto, que tanto Bolsonaro quanto Lula são também campeões de rejeição na opinião pública.

A vitória de um ou de outro supostamente prolongaria por mais quatro anos o cenário de polarização observável em algumas (felizmente, não em todas) dimensões da política brasileira atual.

É natural, portanto, que o termo “terceira via” tenha se popularizado entre os atores políticos que buscam uma alternativa competitiva à repetição da disputa entre bolsonarismo e petismo já registrada no pleito presidencial de 2018.

Tenho notado, porém, que o debate político sobre a terceira via está carregado de imprecisões conceituais. Nem sempre os usuários dessa expressão estão falando da mesma coisa. Espero ajudar a trazer um pouco mais de sentido à referida confusão.

A premissa da qual gostaria de partir até parece óbvia e elementar, mas não pode ser ignorada. Para que haja uma terceira via na próxima eleição presidencial, é preciso primeiro que realmente haja as outras duas.

Assim, se por qualquer motivo as candidaturas presidenciais do presidente Bolsonaro e/ou do ex-presidente Lula não se confirmarem, não faria mais sentido algum falar em terceira via.

Portanto, é importante monitorar os fatores de risco que podem (ao menos potencialmente) impedir que um deles, ou ambos, venham de fato a ser candidatos ao Planalto. Por enquanto, deixarei à imaginação do leitor a enumeração de tais incertezas.

Assumindo, todavia, que tanto Bolsonaro como Lula serão candidatos, resta ainda assim desfazer o que me parece ser o mais sério equívoco conceitual no debate sobre a terceira via.

Me refiro à apressada equiparação entre a terceira via e o centro político. Esses termos não significam a mesma coisa, mas muitas vezes são apresentados como se fossem expressões idênticas.

Um candidato a presidente competitivo e com perfil de terceira via não precisaria necessariamente ser um candidato de centro. Conceitualmente, bastaria que ele ou ela fosse uma pessoa distinta tanto de Lula como de Bolsonaro. Alguns dos atuais pré-candidatos a presidente poderiam se viabilizar como terceira via disputando com Lula o eleitorado mais à esquerda ou com Bolsonaro os votos mais à direita. De fato, há ex-ministros de ambos os presidenciáveis favoritos buscando ocupar estes espaços.

Naturalmente, por outro lado, também é possível que o principal nome da terceira via na eleição venha a ser um candidato ou candidata verdadeiramente centrista, que não tenha participado nem do governo atual e nem dos governos petistas. Ele ou ela provavelmente pertenceria a algum dos partidos de centro que atuam de forma independente no Congresso (diferentemente dos partidos do chamado Centrão, que se aliaram ao presidente Bolsonaro). Este segundo perfil também é facilmente encontrável na lista de pré-candidatos da terceira via.

Em outras palavras, portanto, um candidato de centro seria necessariamente um candidato da terceira via. Mas nem toda terceira via seria necessariamente uma candidatura de centro. Voltarei em breve ao assunto.


(Uma versão deste artigo foi publicada em 9 de novembro no site do Espaço Democrático)



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