PORQUE O CONFLITO ENTRE RÚSSIA E UCRÂNIA É UM PROBLEMA PARA O BRASIL
O Presidente Bolsonaro tem viagem para a Rússia agenda para o dia 14 de fevereiro. Na pauta está o fornecimento de fertilizantes para o Brasil e a compra de soja, carne e outras commodities pela Rússia, ou seja, a balança comercial. As exportações do Brasil para a Rússia têm caído sistematicamente e a dependência do Brasil dos fertilizantes russos motivaram uma reunião entre os líderes dos dois governos e uma reunião entre representantes da agricultura e agronegócio de ambos os países, com a presença de Bolsonaro e da ministra Tereza Cristina, da Agricultura. É uma agenda focada na economia – cada país defendendo a sua, como é usual. É possível que também haja algum acordo na área cultural, mas ainda não se sabe ao certo qual seria. A crise com a Ucrânia, que chegou a fazer parte do roteiro de Bolsonaro por poucas horas mas foi logo abandonada, só entra na conversa se for por vontade de Putin, como disse o presidente do Brasil.
O que nós queremos é exportar mais e comprar menos. E o que a Rússia quer? A mesma coisa. Mesmo que ela não esteja entre os países que mais exportam para e que mais importam do Brasil, continua sendo um parceiro importante – inclusive fazemos parte, junto com China, África do Sul e Índia, dos chamados BRICS. Nossos interesses podem ser convergentes – o Brasil precisa muito dos fertilizantes russos, pois não somos autossuficientes aqui. Sem fertilizantes cai a produção agrícola e, consequentemente, nossas exportações não só para a Rússia como para todo o mundo. Ou seja, pressão inflacionária domesticamente. Não só isso, mas caso haja uma invasão à Ucrânia, o apetite importador da Rússia fica menor, pior para o Brasil, e o preço do fertilizante exportado fatalmente subirá para financiar os gastos militares com uma eventual guerra. Também pior para o Brasil.
Deixemos um pouco o Brasil. A crise e possível conflito entre Rússia e Ucrânia tem por objetivo a OTAN: A Rússia é contra a entrada na Ucrânia na Organização, enquanto os EUA e outros países membros (todos são democracias, diga-se) são a favor. Esperava-se que todos os países europeus membros da OTAN fossem ostensivamente pró Ucrânia mas, à exceção da França, são discretos em seu apoio. Isso porque 40% do gás utilizado pelos países europeus é fornecido pela Rússia. O eventual corte no abastecimento pode causar danos enormes aos países não só pelo desabastecimento, mas também pelo alto preço que terão de pagar por alternativas mais custosas. E o Brasil? Sim, adivinharam – sofrerá pressão nos preços dos combustíveis, que já estão muito altos. Não vou entrar em seara estranha a mim aqui, poupando-os de cálculos que não sei fazer. O fato é que tudo o que acontece no mundo traz consequências para vários países.
O Brasil quer fazer parte da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) – uma organização que é composta de países comprometidos com a democracia e a economia de mercado. O Brasil também tem que demonstrar tal comprometimento. Mostrar que é uma economia de mercado é mais fácil, atualmente, do que demonstrar compromisso com a democracia. Por isso a viagem à Rússia é tão sensível – uma expressão mal colocada, pode colocar muito a perder. Então seria talvez melhor que a Ucrânia voltasse ao roteiro ou, a melhor solução, que a viagem fosse adiada até uma melhor definição do cenário no Leste Europeu.
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