top of page
Rogério Schmitt

INFLAÇÃO ELEGE PRESIDENTES?

O meu objetivo nesse artigo é avaliar retrospectivamente a relação entre a inflação e o resultado das eleições presidenciais, do final dos anos 1990 até os dias atuais. Como veremos, os manuais estão corretos: governos que entregam bons resultados econômicos tendem a vencer as eleições. Mas esta não é uma regra absoluta. O índice de inflação que utilizarei será o IPCA, que é apurado pelo IBGE e considerado pelo governo federal como a taxa oficial de inflação do País. Mais especificamente, levarei em conta o IPCA acumulado no intervalo de 24 meses entre janeiro do ano anterior à eleição e dezembro do próprio ano eleitoral. Por exemplo, para o pleito de outubro de 2018, utilizarei a variação do IPCA entre janeiro de 2017 e dezembro de 2018. Examinemos, portanto, em ordem cronológica, a relação entre a inflação e o resultado de cada eleição presidencial. Em outubro de 1998, Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro presidente a concorrer à reeleição. A inflação acumulada entre jan/97 e dez/98 foi de apenas 6,97%. E FHC foi reeleito em primeiro turno. Em outubro de 2002, o candidato governista era o tucano José Serra. Entre jan/01 e dez/02, o IPCA acumulado foi de 21,17%. E a eleição foi vencida pela oposição: o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Lula disputaria um segundo mandato nas urnas em outubro de 2006. Com uma inflação acumulada de 9,01% (jan/05 a dez/06), Lula foi o segundo presidente a ser reeleito. Em outubro de 2010, a candidata do governo era a petista Dilma Rousseff. Naquele período (jan/09 a dez/10), o IPCA acumulado foi de 10,48%. E o governo foi novamente vitorioso. Por fim, a reeleição de Dilma Rousseff veio em outubro de 2014, numa conjuntura em que a inflação acumulada foi de 12,70% entre jan/13 e dez/14. Essas cinco primeiras eleições apresentaram, portanto, uma correlação muito evidente. Os governos elegeram os seus sucessores nos quatro pleitos em que a inflação acumulada em 24 meses era comparativamente mais baixa (entre 6,97% e 12,70%). Na única ocasião em que a oposição derrotou o governo (2002), houve também uma inflação acumulada num patamar comparativo bem mais elevado (21,17%). Mas, também neste caso, o resultado correspondeu ao esperado. Podemos, então, dizer que nestas cinco eleições presidenciais a conjuntura econômica esteve fortemente correlacionada ao resultado das urnas. Governos que entregaram inflação baixa foram recompensados pelos eleitores. E o único governo que entregou inflação alta foi eleitoralmente punido. A única eleição onde parece não ter havido uma correlação entre inflação e voto foi justamente o pleito de outubro de 2018. Naquele ano, o candidato do presidente Michel Temer foi o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles. Contudo, mesmo entregando uma inflação baixa (4,53% entre jan/17 e dez/18), o governo Temer seria fragorosamente derrotado nas urnas. A vitória de Jair Bolsonaro deve ser atribuída a outros fatores. A pergunta que deixo agora é se a eleição de outubro de 2022 será mais parecida com os cinco pleitos ocorridos entre 1998 e 2014 ou se novamente, como em 2018, não será condicionada pela conjuntura inflacionária. O IPCA acumulado entre jan/21 e abr/22 já é de 14,79%. A taxa provavelmente encerrará o ano próxima dos 20%. Em outras palavras, se o voto for econômico em 2022, o governo Bolsonaro caminha para uma derrota nas urnas.

(Uma versão deste artigo foi publicada em 26 de abril no site do Espaço Democrático)



Comments


Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Nenhum tag.
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page