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  • Luís Henrique Pedroso

OUTUBRO: O EFERVESCENTE MÊS DA AMÉRICA DO SUL.


Se 2018 foi um ano intenso e marcante para o Brasil com escândalos, prisões e eleições, 2019 não acabou e já não fica para trás. Se 2018 não foi tão intenso e marcante quanto 2017[1] para a América do Sul, 2019 está sendo. Outubro deste ano, então, superintenso. Se começamos o ano com Juan Guaidó se autoproclamando presidente da Venezuela, terminaremos outubro com eleições na Argentina, Uruguai e Colômbia. Se incluirmos a incerteza sobre os desdobramentos dos protestos no Chile e no Equador, as dúvidas sobre os resultados das eleições na Bolívia, as confusões do PSL no Brasil e a crise no Peru, então fica ainda mais claro o ativo e conturbado momento do continente.

No dia 20 de outubro, a Bolívia teve eleições gerais para o executivo e legislativo nacionais. A contestação dos resultados e suspeição de fraudes já fazem parte da realidade boliviana. Eleição após eleição o mandato do longevo Evo Morales é contestado, a oposição alega fraudes, os observadores da OEA manifestam preocupações, a comunidade internacional reage superficialmente pedindo investigações e nada muda. Como de costume, protestos são deflagrados em alguns cantos do país e demandam atenção ao que comumente está sendo chamado de “resistência civil” - manifestações de grupos contrários a Evo Morales. Um fato novo, no entanto, desperta o interesse para 2024: o crescimento do ultraconservadorismo promovido pelo Partido Democrata Cristão que teve como candidato o sul-coreano Chi Hyun Chung. O reflexo e a cartilha de Trump, Erdogan, Bolsonaro chegou e cresceu na Bolívia neste ano e a depender dos rumos (mais igrejas?) e alianças (com vizinhos?) que tomarem nos próximos anos podem desafiar o status quo Movimento ao Socialismo de Evo e Frente Revolucionária de Esquerda de Carlos Mesa, o candidato derrotado no dia 20.


Para América do Sul, o dia 27 de outubro será muito importante. Isso porque a Colômbia passará por eleições regionais (governadores, deputados estaduais, prefeitos e vereadores), o Uruguai e a Argentina terão eleições presidenciais e também para o legislativo. Historicamente o cenário político na Colômbia é extremamente complexo e questões como narcotráfico, conflitos internos e grau de interferência dos EUA são as principais pautas. Com o recente rompimento do pacto de Cartagena por parte de algumas lideranças das FARC e a possibilidade do ressurgimento de um braço armado, as tensões aumentaram no país. Se somarmos a isso o fato de que na Colômbia há mais de uma centena de siglas e total dispersão do poder político local e nacional, o futuro se coloca incerto para o recém-eleito (em 2018) Iván Duque.


Para o Uruguai, o dia 27 é uma “parada obrigatória” visto que está praticamente certa a ocorrência do segundo turno no fim de novembro. Ainda assim, será interessante observar quão fortes vão os dois candidatos para o derradeiro dia 24 de novembro. Resumidamente, a Frente Amplio (de Tabaré Vásquez e Pepe Mujica) leva Daniel Martínez como candidato para sustentar sua recente hegemonia e enfrentar uma aliança fragmentada de oposição que destaca Luis Lacalle Pou como principal oponente. Embora o bom desempenho da economia uruguaia e das políticas sociais de centro-esquerda, os últimos anos registraram diminuição no crescimento do país, problemas fiscais e aumento da violência. Este cenário, somado ao crescimento dos partidos de direita na América do Sul coloca em xeque pela primeira vez em mais de uma década a força da Frente Amplio.


Na Argentina, nosso principal parceiro comercial na América do Sul, estão nossos olhos mais atentos. As primárias, em agosto deste ano, já demonstraram o descontentamento do povo argentino com o atual presidente Mauricio Macri. Já são quase dois anos de agravamento da crise cambial, comercial e social. Ao passo que o peso argentino cai, a pobreza aumenta, a dívida externa aumenta e autoridade de Macri é questionada. Agora até pelo FMI. Se Macri está cada vez mais longe da Casa Rosada, os esforços para sustentar um “Macrismo” no Legislativo aumentam de modo a garantir alguma força de oposição pelos próximos anos. O periodista Federico Rivas Molina, do El País, definiu no fim de setembro o cenário político argentino atual como “atomizado no nível provincial, com poderes locais que renovaram seus mandatos em eleições que aconteceram antes das nacionais; homogêneo em nível nacional, com o peronismo como força hegemônica.”. A tendência é o retorno da influência de Cristina Kirchner com a provável eleição de Alberto Fernández no dia 27.


Ao falar sobre o mês de outubro, é, também, imprescindível relatar os acontecimentos no Peru, Equador e Chile. A crise política peruana perpassa os conflitos entre o Executivo e o Legislativo. O Congresso não aprovou uma proposta de reforma apresentada pelo presidente Martín Vizcarra que, então dissolveu o Congresso. Os parlamentares, por sua vez, suspenderam o Presidente e nomearam como presidente interina Mercedes Aráoz, a vice. Ela renunciou, Vizcarra continua no cargo. O Equador viveu dias extremamente tensos em outubro após o fim de subsídios governamentais aos combustíveis que perduravam por quatro décadas. O caos foi tão grande que o presidente Leín Moreno chegou a transferir a capital do país de Quito para Guayaquil. As pressões populares fizeram com que o governo equatoriano contrariasse as recomendações do FMI e voltassem atrás na decisão de encerrar os subsídios. No Chile acontece movimento similar: o aumento no preço das passagens de metrô desencadeou protestos violentos em Santiago que logo também tomaram forma em diversas cidades chilenas. Episódios que lembram muito as manifestações de 2013 no Brasil. A escalada da violência levou o governo a declarar Estado de Emergência e colocar o exército nas ruas, algo que não se via desde Pinochet.


O que vemos no Peru, Equador e Chile é uma clara demonstração descrédito nas instituições políticas e jurídicas, de descrédito na classe e partidos políticos e, de certa forma do componente liberal das democracias. A abalada região sul-americana será colocada à prova com pleitos que contrapõe pensamentos e desafia a retórica de direita-esquerda colocando à prova a consolidação de dinastias políticas. Ainda lembraremos por muitos anos esse outubro de 2019, no entanto a compreensão dos possíveis cenários em decorrência de todos os fatos ocorridos poderá ser de grande valia para os setores públicos e privados com interesses na região. E neste mundo interconectado, quem não tem interesse na América do Sul?

[1] Entre ouros acontecimentos: Congresso Nacional do Paraguai queimado por manifestantes, acusações de golpe na Venezuela, eleição turbulenta no Equador e protestos na Argentina.







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