top of page
  • Vera Galante

A SUPERFICIALIDADE DAS REDES SOCIAIS CHEGOU ÀS CAMPANHAS!


Não se faz mais campanhas políticas como antigamente! Não que tenhamos saudades dos métodos antigos e ultrapassados – o mundo mudou e aqueles que acompanharam as mudanças, mudaram com ele.


Assistimos, perplexos, quando divulgados os resultados do primeiro turno para presidente e para governadores, algumas situações surpreendentes: os favoritos terminaram em segundo lugar (vejam o Distrito Federal, por exemplo), alguns novatos que não apareciam nas pesquisas estão na frente de políticos conhecidos (Rio de Janeiro é o exemplo mais óbvio), e o Deputado Bolsonaro, que pelas pesquisas não ganharia de ninguém no segundo turno, está bem à frente de Fernando Haddad. Nos Estados Unidos, dois anos atrás, a mesma coisa aconteceu: a favorita, Hillary Clinton, perdeu para Donald Trump no Colégio Eleitoral. O que aconteceu?


Ainda é muito cedo para dizer ao certo o que ocorreu, mas podemos já tirar algumas conclusões. Essas eleições foram disputadas nas redes sociais, principalmente. O PT tem uma forte presença nas redes e Bolsonaro também. Ciro Gomes e Marina Silva também souberam usar muito bem essas mídias. Para surpresa de todos, o melhor foi Henrique Meirelles. Alckmin, que aparentemente tinha todas as condições de deslanchar e de ganhar popularidade, estranhamente não conseguiu decolar. O que faltou? Ele tinha uma equipe econômica de primeira linha, uma vice respeitada, experiência de governo, mas não usou muito bem as redes sociais – não chegou ao povo. Suas postagens eram sisudas, técnicas e monotônicas – será que ele fala assim mesmo? Em tempos em que a imagem conta mais que as propostas, não encantou.


Mesmo assim, muitos analistas afirmavam com convicção na TV, nos jornais e no rádio que candidatos com X% de rejeição não ganhariam – os dois candidatos a presidente que passaram para o segundo turno tiveram índices altíssimos de rejeição. Fulano não subiu nas pesquisas porque ainda não teve início o horário político no rádio e na TV: o candidato com mais tempo não decolou. No país do presidencialismo de coalisão só quem faz acordo com outros partidos vence – o candidato com mais apoio partidário não venceu. Enfim, algo deu “errado” nas análises e nas previsões (e também nas pesquisas, mas isso é assunto para outro artigo).


Nos EUA, as campanhas de Trump e de Clinton foram muito diferentes – a Democrata tinha experiência como senadora pelo estado de Nova York, foi primeira dama do país e do estado do Arkansas, era a primeira mulher a se candidatar à presidência (sucedendo o primeiro negro presidente do país), tinha propostas exequíveis, e aparentemente tinha franca preferência, menos por uma camada da população que a achava muito distante e arrogante. Por outro lado Donald Trump fez uma campanha agressiva pelas redes sociais (principalmente pelo Twitter), não tinha experiência para mostrar, a não ser de um empresário agressivo, rico, mas que tinha pedido falência três vezes (diz-se que as falências era para poder demitir funcionários sem pagar obrigações trabalhistas), não tinha propostas concretas, mas falava a linguagem que o povo queria ouvir – menos imigração, mais empregos nos EUA, e denegria a imagem de Hillary em todas as oportunidades. O General Flyn o acompanhava nos comícios de campanha comandava o famoso “lock her up” – prendam a Hillary! Tudo em linguagem muito fácil e que encontrava guarida nos trabalhadores americanos que se ressentiam de imigrantes que tiravam seus empregos, de falta de segurança, e que viam em Trump um homem que cumpria o que prometia.


Esses trabalhadores e outros segmentos da população gostaram da maneira simplista que ele propunha solucionar problemas e o elegeu para a presidência.


No Brasil, o fenômeno Jair Bolsonaro não é muito diferente. A diferença mais gritante é que Bolsonaro tem 27 anos de Congresso Nacional. Ele fez e apareceu tão pouco, que a maior parte o encara como novato na política. Ele usa a mesma retórica de Trump – sabe detectar o que o povo quer e capitaliza nisso. E tudo isso cabe em um tuíte – 280 palavras são suficientes para resolver o problema do estuprador (castração química), violência (armar a população), violência doméstica (mulheres armadas não sofrem violência), educação (escolas militares são as melhores), e assim por diante. Também pegou a onda conservadora, militarizante do país com seu slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.” “Brasil Acima de Tudo” é o brado dos paraquedistas do Exército Brasileiro e Deus acima de tudo atrai cristãos de todas as matizes. Bolsonaro inteligentemente invoca o exército (a lei e a ordem) e a religiosidade em sua campanha.


Fernando Haddad herdou votos do ídolo da esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva. O mote da campanha é “O Brasil Feliz de Novo,” o que evoca os anos de prosperidade sob Lula da Silva, mas não os anos de crise sob Dilma Rousseff que, aliás, nem mencionada é em sua campanha (aliás, Dilma foi outra “surpresa”- era a favorita para o Senado em Minas Gerais, mas terminou em 4o lugar, ou seja, não foi eleita). Haddad foi bem votado no primeiro turno, mas o resultado poderia ter sido melhor se seu mentor, Lula, não tivesse demorado tanto a escolhê-lo como seu substituto. A população fiel ao PT votaria até num jumento, como disse uma eleitora, se Lula mandasse. Haddad, entretanto, não expôs suas ideias, mas encampou todas as do Lula, não mostrando à população quem era, mas quem representava. Alguns do próprio PT não se sentiam confortáveis com isso, e nem certas parcelas dos eleitores do PT.


O PT sempre se colocou como sendo o único partido que governa ao lado de e para o povo. Aparentemente o povo não quer mais o estilo PT de governar e, embora os benefícios das diversas bolsas que ganham, não votaram em massa no candidato do partido, para surpresa do partido.


Nestes dias que antecedem o segundo turno, Haddad tem feito campanha de maneira mais agressiva – literalmente – provocando seu adversário. Sua presença nas mídias sociais está mais intensa, e mais agressiva em um tom que não condiz com sua imagem de uma pessoa ponderada, não muito afinada com o comportamento do PT. Bolsonaro continua o que é – agressivo, uma pessoa que diz o que pensa, que vai fazer tudo o que quiser e o Congresso vai ter que concordar, e que está no controle de sua campanha. Até o comportamento dos filhos, que foram eleitos Deputado Federal (PSL-SP) e Senador (PSL-RJ) está sob escrutínio, exigindo que o pai os desminta publicamente.


Donald Trump governa pelo Twitter e, segundo ele, cumpre as promessas de campanha. Também governa sozinho – não ouve conselhos daqueles que ele mesmo escolheu para aconselhá-lo. Resta ver se, caso Jair Bolsonaro seja eleito, como tudo indica, qual será o estilo dele de governar.


Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Nenhum tag.
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page