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Luís Henrique Pedroso

PAPEL HIGIÊNICO É DINHEIRO


Os episódios reportados nos últimos dias em Taiwan são inusitados, especialmente quando observados sob a ótica da realidade do brasileiro. Consumidores assustados fazendo filas em mercados e lojas, movimentação intensa nas ruas, noticiários insistentemente cobrindo o assunto, prateleiras vazias. Não há mais papel higiênico para vender na ilha.

Após aviso dado pelos produtores locais de papel higiênico de que haveria um aumento entre 10 e 30% no preço do produto, a população foi às compras. O papel higiênico acabou. Atualmente o Brasil e o Canadá são os principais fornecedores de celulose (pulp) e papel para fins sanitários (tissue) para Taiwan. Fontes do governo de Taiwan alegam que interrupções na produção brasileira e incêndios no Canadá aumentaram o preço internacional da celulose, obrigando produtores locais a elevar o preço do produto final. A interconectividade da cadeia produtiva neste mundo globalizado é incontestável. O papel higiênico produzido lá depende da árvore plantada, derrubada e tratada aqui, depende da conservação das florestas no Canadá. Me abstenho de analisar os motivos que levaram o governo de Taiwan a promover tais declarações, me atenho aos fatos e ao argumento de que falar de papel higiênico é falar de dinheiro.


No ano de 2017 o Brasil produziu quase 20 milhões de toneladas de celulose, cerca de 4% a mais em comparação ao ano anterior. Desse total, aproximadamente 65% foi exportado, o equivalente a USD 8.5 bilhões, ou seja, cerca de 4% na balança comercial do Brasil e 9% do agronegócio nacional no ano passado. Não é pouco, mas, me aproveitando de comentário do nosso Consultor Sênior Benício Schmidt, imagine quando as zonas rurais da Índia e China, por exemplo, começarem, majoritariamente, a usar papel higiênico. É um mercado em potencial de alguns bilhões de seres humanos. Se em 2017 as exportações de papel para fins sanitários, o tissue, tiveram aumento de quase 14%, em um futuro não muito distante, o sul e sudeste asiático oferecerão mercado de alguns bilhões de usuários de papel higiênico.


O Brasil recebeu altos investimentos nesse setor na última década e é um dos maiores players no mercado global. A tecnologia empregada nos laboratórios, nas plantações e no processamento das árvores é de ponta. A participação do setor na economia é significativo e transborda para outros setores, como o do meio-ambiente. Os comprometimentos do país com algumas metas da COP-21 perpassam pela indústria florestal. É provável que o setor tenha papel de destaque nas próximas eleições, mesmo que longe das manchetes, que atualmente tratam de segurança pública. A tendência é observarmos um crescimento nas áreas destinadas ao plantio de árvores para extração, processamento e exportação de celulose.


Em Taiwan, a corrida aos mercados na busca por papel higiênico deixa claro que este é um bem de consumo da modernidade. A comercialização da celulose não é novidade, tampouco sua importância para a balança comercial de grandes produtores agrícolas. Contudo, é pertinente vislumbrar a incorporação de certos elementos e hábitos na cultura de povos em partes economicamente subdesenvolvidas e em desenvolvimento. O papel higiênico é um exemplo, e esse exemplo é dinheiro.

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